Oiapoque: A conquista da nossa terra

Oiapoque: A conquista da nossa terra

Povos IndígenasEsta reportagem descreve a legalização da terra por parte dos Povos Indígenas em Oiapoque

A CONQUISTA DE NOSSA TERRA

Memória dos Povos Galibi-Marworno, Palikur, Karipuna e Galibi-Kaliña .

Terras indígenas: Galibi, Uaça e Juminã.

 

 

Durante a última assembléia no final de agosto deste ano 2012, na aldeia de Kumarumã, todos ficaram profundamente comovidos frente ao relato das falas das nossas antigas lideranças que iniciaram a luta para garantir a terra em que nós estamos. Nós seus filhos e netos : karipuna, galibi-kaliña, palikur e galibi-marworno, somos beneficiários desta luta.

Eles estavam conscientes que a terra, sua de direito não estava legalmente garantida e poderia ser perdida. “O problema da terra é sério, muito sério. Podemos ficar sem ela”!”““; “Temos que lutar pela nossa vida; unidos vamos vencer”. O refrão recorrente era: “temos que nos unir e lutar juntos”; “quando estaremos reunidos e unidos, nós seremos vencedores”; “unidos vamos vencer”; “Somos povos diferentes, mas a área é uma só e todos somos uma só nação”.

A mentalidade que dominava, herança cultural dos antepassados era: “O chefe é chefe para defender os interesses de todos”; “Ser civilizado significa fazer o que estamos fazendo hoje: todos unidos para falar sobre os nossos problemas e encontrar junto as soluções. Eu, por exemplo, não devo procurar o meu próprio interesse, mas o interesse de toda a comunidade. Eu isto entendi que é ser civilizado.” “u não quero me vender para vender meu pai, meus irmãos e ver os meus filhos viver amanhã na miséria. Nós preferimos passar miséria juntos, mas não quero vender o meu povo”. Esta 1ª assembléia aconteceu em 22 e 23 de setembro de 1976. No ano seguinte 1977 já a terra Galibi e a terra Uaça dos povos Karipuna, Galibi-Marworno e Palikur estava demarcada.

As lideranças já sabiam o que queriam. Representantes da FUNAI visitaram as aldeias procurando convencer as lideranças para aceitarem os rios como limites da reserva. Os índios não somente recusaram, mas exigiram que os limites obedecesse à norma dos 05 km da beira de caca rio e além das cabeceiras. A Plantel, contratada pela FUNAI, queria facilitar o seu trabalho, reduzindo os limites. Tinha julgado mal os educados índios Galibi-Marworno porque foram obrigados a parar a demarcação e voltar para Goiânia. A FUNAI interveio e mandou de volta a Plantel com a ordem de aceitar a orientação dos índios que acompanhavam a demarcação passo a passo. No final a festa foi grande e a auto-estima tinha crescido. Era a primeira vez na história, que, não somente funcionários locais, mas a alta esfera da FUNAI fazia a vontade deles.

Ninguém mais lembrava que o índio até tinha vergonha em falar a sua língua e até de ser índio. Um funcionário da FUNAI de Brasília chegou a dizer a uma liderança: “Você nem é índio! É civilizado como nós!” Mas o índio logo respondeu: “Não senhor eu sou índio karipuna e tenho orgulho disso”.

A mudança e as conquistas não se deram por acaso. Com o apoio do Conselho Indigenista Missionário, algumas lideranças puderam viajar e presenciar a situação dos indígenas em outras partes do Brasil e ouvir os depoimentos das lideranças. Com a cobertura da FAB os caciques Geraldo Lod, que ainda vive e o falecido Manoel Floriano Maciel puderam participar da 2ª Assembléia Indígena em nível nacional na aldeia Cururu do povo mundurucu no alto Tapajós. Participaram da assembléia representantes dos povos Bororo, xavantes, tapirapé, xerente, irantxe, nambikwara, kaxiuiana, tiriyó, mundurucu, anfitriões da casa.

Lá ouviram inúmeros depoimentos: “Esta terra é nossa mesmo. Os brancos não podem entrar. Nós debaixo do céu, na cabeceira do rio tem muito índio, mas um corpo só. Línguas diferentes, mas tudo igual, todos primeiro usava a mesma tanga”.

“Somos filhos legítimos desta terra. Os brancos querem tirar nossa terra, querem acabar com nós. Branco considera índio como bicho, mas nós somos gente como eles”. O karipuna e o Galibi devem ter ficado chocado. Em Oiapoque não conheciam conflito; era uma região isolada e nem rodovia tinha. “Nossos avós falavam de muitas raças, mas nunca pensava encontrar. Não pensava chegar aqui no centro da América do sul. O civilizado quer nos afastar para terra pobre.” “Nós precisamos demarcar a terra para evitar atrapalhos”.

As assembléias, os encontros estimularam AC comunidades a melhorar sua própria vida em todos os setores: educação, saúde, religião, danças, cooperativa e transporte.

Em 1982 a terra Galibi já estava homologada e logo em seguida foi a vez da terra Uaça. Em 1983 os índios tomaram consciência que outras aldeia tinha ficado fora da demarcação: foi a luta para que a reserva Juminã fosse reconhecida e os representantes das outras aldeias realizaram a demarcação sem esperam compenso e gratificação.

A consciência estava bem forte e os índios decidiram fazer algo que ia além de sua cultura: se ofereceram para demarcar, gratuitamente a terra dos índio Waiãpi.

Junto com a conquista da terra cresceu a capacidade dos índios recuperar sua língua, sua histórias, suas tradições. A língua oral tornou-se escrita com a ajuda do CIMI e a participação direita dos primeiros professores indígenas. A terra é o chão cultural o chão para a identidade se afirmar, a capacidade se expressar, a organização se firmar.

Hoje as escolas são reconhecidas como indígenas, o currículo é reconhecido pelo MEC; cerca de 150 professores são formados e lecionam em suas aldeias e uma parte já concluiu a universidade e cerca de 100 estão cursando curso superior.

Tomam conta da administração da UDR e dos vários setores da vida comunitária. Fazem convênios, possuem um bonito museu na cidade de Oiapoque. Hoje todo o Estado do Amapá e o Norte do Para, Parque de Tumucumaque tem suas terras demarcadas, homologadas, registradas e não invadidas e os índio tem seu Plano de vida que bolaram de forma coletiva e que procuram realizar.

O CIMI foi e o companheiro de ontem e de hoje, mas os índios já andam com suas pernas e agradecem o seu aliado.